Precisamos falar sobre o impacto do surto da COVID-19 na saúde mental

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De acordo com Andrew Solomon, renomado professor de psicologia da Universidade de Colúmbia e autor do best seller “o Demônio do Meio-Dia: uma anatomia da depressão”, vivemos uma subnotificação que considera “catastrófica” de problemas relacionados à doença mental, afirmando que o isolamento, inerente e necessário à pandemia, pode contribuir para aumento nos casos de depressão.

Diante do cenário que o surto da Covid-19 trouxe ao mundo em 2020, quando uma doença de fácil disseminação e contágio interrompeu praticamente todos os aspectos da vida cotidiana relacionados a trabalho, tratamentos, lazer; desencadeou quarentena, isolamento e distanciamento social forçado, as pessoas acabam achando que a saúde mental é um luxo, algo não essencial ao momento.

Vamos fazer uma analogia? Se você sentir uma forte dor em seu pé que dificulte o seu caminhar, os seus hábitos diários, por dias consecutivos e sem perspectiva de melhora espontânea, você deixará de investigar o que está acontecendo? O mesmo devemos fazer com os incômodos da nossa mente e das nossas emoções, precisamos investigar e falar sobre eles!!!

Saúde mental não deveria ser um luxo, faz parte da nossa saúde global e, além disso, problemas físicos podem ser consequentes às doenças mentais. Especialmente aqui, na comunidade de esclerose múltipla, neuromielite óptica e demais condições desmielinizantes, onde bem sabemos quanto o estresse impacta a saúde de cada um.

Sabemos que pode ser difícil para muitos conseguir atendimento especializado com psicólogo ou mesmo psiquiatra, em função da pouca disponibilidade destes profissionais no SUS, mas devem ser buscados junto aos centros de referência em sua localidade.

Saúde mental não deveria ser um luxo, faz parte da nossa saúde global e, além disso, problemas físicos podem ser consequentes às doenças mentais.

Para o momento, é bastante esperado que achemos tudo mais difícil, incerto. Que experimentemos sentimentos de medo e ansiedade. Pode ser uma resposta natural a tudo que está acontecendo a nossa volta e dentro de nossas casas. Pessoas com histórico de depressão ou outras doenças da mente podem se sentir ainda piores nessa fase. O importante é sabermos que o contexto atual é uma fase, vai passar e perspectivas do presente e futuras serão retomadas.

Todos estamos preocupados, mesmo os que nunca apresentaram problemas de ordem psíquica. Se sua preocupação chega a alterar sua qualidade do sono, da alimentação, da interação social (mesmo que pela internet), da vida de forma geral trazendo grande ansiedade para fazer coisas rotineiras, talvez você possa se beneficiar de ajuda especializada.

Quanto antes buscarmos novas estratégias de enfrentar as dificuldades trazidas por essa fase e, quando necessário, o tratamento adequado, menores serão as consequências futuras dos sintomas na saúde mental e na saúde global. Já mencionamos em outros posts aqui no portal e pretendemos discutir mais sobre este e outros temas relacionados à saúde mental aqui no portal, em breve.

Referências:

Polizzi, C, Lynn SJ, Perry, A. Stress and coping in the time of Covid-19: Pathways to resilience and recovery. Clinical Neuropsychiatry 17, 2, 59-62, 2020.

Vivemos subnotificação catastrófica de depressão na pandemia, diz Andrew Solomon. Disponível em https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2020/06/vivemos-subnotificacao-catastrofica-de-depressao-na-pandemia-diz-andrew-solomon.shtml

Vanessa Marques Ferreira Jorge

Psicóloga do Centro de Medicina e Reabilitação Lucy Montoro Santos. Graduada bacharel em psicologia pela Universidade Católica de Santos. Especialista em psicologia hospitalar pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HC-FMUSP) e pós-graduanda em Neuropsicologia pelo Centro de Estudos em Psicologia da Saúde (CEPSIC). Atou por 4 anos como psicóloga da Divisão de Psicologia do Instituto Central do Hospital das Clínicas - FMUSP. Desenvolve pesquisas na área de esclerose múltipla, sexualidade, ansiedade e depressão.

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