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COVID-19 e as implicações para pacientes com esclerose múltipla em alta atividade 

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Ao longo de anos a esclerose múltipla (EM) foi associada a um maior risco infeccioso, principalmente em relação a infecção urinária e pneumonia. Assim como acontece em outras doenças autoimunes, esse maior risco pode ser devido à desregulação do sistema imune pela doença ou ao uso de medicamentos imunossupressores.

A partir de 2020, com a pandemia da COVID-19, vários estudos passaram a ser realizados para investigar se ter EM seria fator de risco para uma infecção mais grave pelo coronavírus. Após dois anos de pandemia sabemos que pacientes com EM não apresentam maior risco de ter COVID-19 e apresentar formas mais graves da doença.

Entretanto, mesmo tratando-se de uma só doença, existem pacientes com diferentes “formas” de EM. E, pensando por esse lado, a pergunta agora era se algum dos subgrupos de pacientes com EM teria maiores riscos pela infecção pelo coronavírus. Assim, pesquisas realizadas em diversos países, como Itália e França, tiveram interesse especial nos pacientes que tinham EM e critérios de alta atividade.

Definição de alta atividade

Antes de tudo é importante que se entenda a definição de alta atividade na EM. Alguns pacientes apresentam uma forma de EM de difícil controle com as medicações convencionais, o que recebe o nome de EM altamente ativa.

De forma resumida, pode-se dizer que existem três marcadores da doença altamente ativa: múltiplos surtos, novas lesões na ressonância magnética (RM) e piora da incapacidade. Entretanto, existem critérios para definir com exatidão a alta atividade da doença:

  1. A ocorrência de dois ou mais surtos com recuperação incompleta no último ano.
  2. A presença de novas lesões captantes de contraste na ressonância magnética, ou aumento significativo da carga lesional.

Relação entre EM com alta atividade e COVID-19

Os pacientes com EM altamente ativa necessitam de tratamento com medicações de alta eficácia para controlar a evolução da doença. Dentre essas medicações de alta eficácia estão os anticorpos monoclonais (natalizumabe, alemtuzumabe e ocrelizumabe), o fingolimode e a cladribina. Apesar de apresentarem alta eficácia para o tratamento da EM, o uso dessas medicações aumentam o risco de infecções. 

Diante dessa realidade foi fundamental investigar se esses medicamentos de alta eficácia também aumentariam o risco de infecção pelo coronavírus. 

Em um trabalho com 347 pacientes, realizado na Itália, não foi encontrada associação entre COVID-19 na forma grave e qualquer medicação específica para EM. Por outro lado, em uma análise de 1787 pacientes, o uso de anticorpos monoclonais foi associado a um risco duas vezes maior de curso grave da infecção. Porém, o número descrito de casos fatais em pacientes com EM e Covid-19 foi baixo. Existem divergências quanto à resposta exata sobre a relação entre medicações de alta eficácia e COVID-19 grave. Assim, permanece imprescindível que as medidas de precaução contra a infecção continuem sendo tomadas.

Tratamento da EM durante a pandemia de COVID-19

Vários debates foram feitos sobre o início e a continuação de tratamentos para EM diante dos possíveis riscos relacionados à COVID-19. A princípio, o tratamento de pacientes com EM não deve ser interrompido na pandemia. A justificativa para essa escolha é que suspender as medicações usadas poderia submeter o paciente à maior chance de novos surtos. Entretanto, é importante ressaltar que o neurologista assistente deve sempre avaliar a relação risco-benefício de se manter a medicação para cada paciente individualmente. 

Paciente com EM pode tomar a vacina contra a COVID-19?

Essa é uma dúvida muito frequente, entretanto, a vacinação contra a COVID-19 está indicada nos pacientes com EM. Todas as vacinas aprovadas demonstraram serem eficazes na redução do risco de COVID-19 na forma grave da doença. Nesse contexto, apenas os anticorpos monoclonais ainda trazem certos desafios, uma vez que podem diminuir a resposta imune às vacinas. Porém, permanece a recomendação de que todos os pacientes sejam vacinados.  

Um ponto importante a ser discutido diz respeito ao momento da vacinação. Na maioria dos casos não há recomendações específicas de quando tomar a vacina. Porém, nos pacientes tratados com anticorpos monoclonais é sugerido adiar a vacinação pelo menos 12 semanas após a última administração da medicação ou antecipá-la pelo menos 4 semanas.

Em quase dois anos a COVID-19 fez mais de 3 milhões de vítimas no mundo, acometendo principalmente os pacientes mais idosos, portadores de comorbidades vasculares, respiratórias, entre outras. Somente com o início da campanha de vacinação na população geral é que o controle da pandemia parece um pouco mais próximo, visto que não temos tratamento com eficácia comprovada para a covid-19. 

Assim, a vacinação se traduz em cuidado para o indivíduo a ser imunizado e para a coletividade ao seu redor. 

Referências

  1. BOWEN, James D. Highly aggressive multiple sclerosis. CONTINUUM: Lifelong Learning in Neurology, v. 25, n. 3, p. 689-714, 2019.
  2. DÍAZ, Cindy; ZARCO, Luis Alfonso; RIVERA, Diego M. Highly active multiple sclerosis: An update. Multiple sclerosis and related disorders, v. 30, p. 215-224, 2019.
  3. MÖHN, Nora et al. Experience in multiple sclerosis patients with COVID-19 and disease-modifying therapies: a review of 873 published cases. Journal of clinical medicine, v. 9, n. 12, p. 4067, 2020.
  4. ROSTAMI MANSOOR, Sahar; GHASEMI‐KASMAN, Maryam. Impact of disease‐modifying drugs on the severity of COVID‐19 infection in multiple sclerosis patients. Journal of Medical Virology, v. 93, n. 3, p. 1314-1319, 2021.
  5. TOSCANO, Simona; CHISARI, Clara G.; PATTI, Francesco. Multiple Sclerosis, COVID-19 and Vaccines: Making the Point. Neurology and Therapy, p. 1-23, 2021.
  6. ZHENG, Crystal et al. Multiple sclerosis disease-modifying therapy and the COVID-19 pandemic: implications on the risk of infection and future vaccination. CNS drugs, v. 34, n. 9, p. 879-896, 2020.
embrasil

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