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Gravidez e esclerose múltipla

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A esclerose múltipla (EM) acomete predominantemente mulheres entre 20 e 40 anos de idade, período em que comumente planejam ter filhos. Nesse cenário, é comum surgirem vários questionamentos sobre a gestação, parto e amamentação.

Diversos estudos têm sido realizados com o intuito de responder a essas perguntas nos últimos anos. Por esse motivo, traremos aqui as respostas para as dúvidas mais frequentes das pacientes com EM que desejam engravidar.

Paciente com esclerose múltipla pode engravidar?

A resposta é sim! A gestação não é contraindicada em paciente com esclerose múltipla e sabe-se que a gestação não piora nem acelera a doença. Por outro lado, também é importante ressaltar que a EM não está relacionada à infertilidade.

Entretanto, deve haver um planejamento adequado a fim de evitar riscos para mãe e o bebê. É imprescindível que o neurologista assistente saiba do desejo de engravidar, para tomar as decisões adequadas em relação ao tratamento. O ideal é que a gestação aconteça em um momento em que a esclerose múltipla esteja controlada e com resposta à droga modificadora de doença (sem novos surtos ou novas lesões na ressonância magnética nos últimos 12 meses).

Outra questão importante é se a EM traria riscos maiores para o feto. Hoje, porém, sabe-se que o risco de aborto, parto prematuro, malformações ou morte neonatal não é maior em pacientes com EM do que na população em geral quando na ausência da droga modificadora de doença. 

Qual a recomendação em relação ao uso de droga modificadora de doença nos pacientes com EM que desejam engravidar?

O ideal é que a paciente não esteja em uso das terapias modificadoras de doença durante a gestação. Algumas das medicações têm se mostrado seguras quando usadas até a paciente descobrir que está grávida, enquanto outros medicamentos estão relacionados a riscos para o feto.

Assim, na maioria das pacientes, as drogas modificadoras de doença são suspensas antes da interrupção do método contraceptivo. Nas pacientes com esclerose múltipla altamente ativa em que a paciente decida por engravidar, a manutenção do tratamento deve ser analisada de forma individualizada junto do médico assistente. 

É natural que haja preocupação com o risco de novos surtos durante a gravidez, uma vez que a paciente está com o tratamento suspenso. Entretanto, o que foi visto ao longo dos anos, é que a gestação tem um efeito protetor, havendo redução importante dos surtos durante esse período, principalmente no terceiro trimestre.

Outra questão importante é sobre o uso de corticosteroides durante a gestação. O uso desses medicamentos é contraindicado, principalmente no primeiro trimestre, devido ao risco de malformações, em especial a fenda palatina.

Em caso de surtos no segundo ou terceiro trimestre que gerem incapacidade importante, a pulsoterapia com metilprednisolona pode ser considerada.

Por fim, outra informação relevante diz respeito à ressonância magnética. Até o momento, o exame não demonstrou impactos negativos na gestação, porém o contraste usado (gadolínio) é contraindicado em gestantes pelo risco de malformação no feto. Além disso, o exame neste momento não traria benefícios, uma vez que o tratamento não mudaria apenas por alterações vistas na ressonância. 

Há alguma recomendação específica quanto ao tipo de parto e anestesia?

Nenhuma diferença significativa foi observada entre mulheres com EM e a população em geral em relação a idade gestacional, permanência da mãe no hospital após o parto ou necessidade de parto cesáreo.

A escolha do tipo de parto (via de parto) deve ser feita de forma individualizada, mas o fato de ter EM não contraindica o parto vaginal ou parto cesáreo. Entretanto, em algumas pacientes o número de cesáreas pode ser maior caso apresentem incapacidade motora importante.

Com relação ao uso de anestesia nessas pacientes, como a raquianestesia, não há contraindicação, bem como não aumenta o risco de surto ou incapacidade.  

As pacientes com esclerose múltipla podem amamentar?

A maioria das medicações para tratamento de EM são contraindicadas durante a amamentação. Diante disso, por algum tempo acreditou-se que a mãe com EM deveria renunciar à amamentação para reiniciar o mais rápido possível o uso das drogas modificadoras de doença. 

Sabe-se que, após o parto, a chance de novos surtos volta a aumentar, principalmente após o 3º ao 4º mês, e retorna à chance basal após um ano. Entretanto, foi observado também que mulheres que realizavam amamentação exclusiva tinham menos surtos no período pós-parto, nos primeiros 6 meses. Assim, o recomendado atualmente na maioria dos casos é que a mulher amamente de forma exclusiva nos primeiros 6 meses e, após esse período, os medicamentos sejam reiniciados e a amamentação suspensa.

Qual a chance de os filhos de pacientes com esclerose múltipla terem a doença?

A EM é uma doença com origem complexa, que resulta da interação de fatores genéticos e de influências ambientais do meio em que a pessoa vive. Assim, percebemos que o fato de os pais terem EM não determina que a doença ocorra no filho. A chance de uma criança filha de mãe com EM desenvolver a doença é de cerca de 3%.

Como visto acima, as mulheres com EM não devem abandonar o sonho de terem filhos pela doença, porém precisam planejar a gestação de forma cuidadosa. Partilhar este planejamento com a família, amigos e o neurologista assistente é fundamental para a segurança e bem-estar da mãe e do bebê.

Referências

1. VUKUSIC, S. et al. Pregnancy with multiple sclerosis. Revue Neurologique, v. 177, n. 3, p. 180-194, 2021.

2. LANGER-GOULD, Annette M. Pregnancy and family planning in multiple sclerosis. CONTINUUM: Lifelong Learning in Neurology, v. 25, n. 3, p. 773-792, 2019.

3. BILBAO, M. Mendibe et al. Multiple sclerosis: pregnancy and women’s health issues. Neurología (English Edition), v. 34, n. 4, p. 259-269, 2019.

embrasil

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