Autoestima e (in)dependência na esclerose múltipla

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Autoestima: saberíamos defini-la? Segundo o dicionário Priberam da Língua Portuguesa, quer dizer “apreço ou valorização que uma pessoa confere a si própria, permitindo-lhe ter confiança nos próprios atos e pensamentos”.

Para todos nós, inclusive para aqueles que estão enfrentando situações potencialmente desafiadoras como a esclerose múltipla, esta costuma ser uma questão importante. Passar por todas as fases, da dúvida do diagnóstico ao tratamento adequado, faz com que o paciente possa ter sofrimento psíquico demasiado, que pode entretanto, ser confortado ao conseguir desenvolver estratégias que possibilitem melhor enfrentamento da situação.

A autoestima é muito mais uma questão interior que exterior e não tem a ver com a beleza. É o que pensamos sobre nós mesmos e não o que os outros acham sobre nós. Não sentir vergonha, fazer o que dá prazer, correr atrás da felicidade, olhar pra “dentro” de si e se sentir satisfeito consigo mesmo, proporciona boa autoestima.

A forma com que reagimos aos eventos do cotidiano é determinada por quem e pelo que pensamos que somos. Os dramas vividos são reflexos das visões mais íntimas que temos de nós mesmos. A partir disso, a autoestima pode ser a chave para nosso sucesso ou para o fracasso. E, também a chave para nos entendermos e nos relacionarmos com os outros.

Sabemos que alguns dos sintomas decorrentes da esclerose múltipla, podem limitar o autocuidado, fazendo com que os pacientes se sintam mais dependentes dos familiares ou de outro cuidador. Tal situação pode levar a sentimentos de incapacidade, inabilidade, incompreensão e menos valia. Deve-se então incentivar o autocuidado respeitando as características de unicidade, autenticidade e individualidade, pois os pacientes que tratam a esclerose múltipla de forma mais passiva esperando que ela desapareça, sem postura ativa perante a mesma, estão mais suscetíveis a vivenciar elevados níveis de depressão, confusão, estresse e, por consequência, rebaixamento da autoestima e da independência.

É possível perceber pelo discurso dos pacientes que após o recebimento do diagnóstico e tratamento, a dificuldade de aceitação pode ser vencida quando se consegue perceber que mesmo com limitações, principalmente físicas, pode-se aos poucos estabelecer novas atividades que exijam menos esforços e que consequentemente se mantenham ocupados e se sentindo bem consigo mesmos. A importância da manutenção de atividades ou adaptação para uma nova fase é o que permite que muitos consigam ultrapassar as barreiras das limitações trazidas pela esclerose múltipla.

Conseguir utilizar fatores motivacionais para superar as alterações causadas pela esclerose múltipla em suas vidas reforça quanto o trabalho de acompanhamento multiprofissional adequado e singular pode auxiliar para que o paciente tenha novas perspectivas, consiga melhorar sua autoestima e o relacionamento com o meio em que vive.

Como melhorar a autoestima?

· Tenha um diálogo consigo mesmo e verifique se existem sentimentos de medo, insegurança, dúvida, raiva, humilhação, rejeição, carência, abandono e principalmente dependência, seja física ou emocional.

· Mantenha esse diálogo interno na busca do autoconhecimento. Acredite em si, em seu potencial, na sua capacidade de adaptação e superação. Faça algo que lhe deixe feliz e motivado.

· Experimente aceitar seus pensamentos, sentimentos e valores pessoais. Defina novas metas para sua vida diante das adversidades.

Caso não esteja conseguindo colocar tudo isso em prática sozinho, um psicólogo pode ser o profissional indicado para lhe ajudar a promover esse autoconhecimento, pois assim é possível entender e identificar o que te faz sentir-se menos valorizado e favorecendo modificações pessoais.

Referências:

1. Anne W; Piazza, D; Holcombe, J; Paul, P; Daffin, P. Hope, Self-Esteem and Social Support in Persons with Multiple Sclerosis. Journal of Neuroscience Nursing, 1990.

2. Branden, N. Autoestima: como aprender a gostar de si mesmo. São Paulo: Editora Saraiva, 1994.

3. Coopersmith, S. The antecedents of self-esteem. San Francisco: Freeman, 1967.

4. Da Silva, EG, De Castro, PF. Percepção do paciente portador de esclerose múltipla sobre o diagnóstico e tratamento. Mudanças – Psicologia da Saúde, 19 (1-2), Jan-Dez 2011, 79-88p.

5. Dicionário Priberam da Língua Portuguesa.  http://www.priberam.pt/dlpo/default.aspx?pal=autoestima.  Acessado em 28/08/2013.

6. McCabe, M, McKern, S, McDonald, E. Coping and psychological adjustment among people with multiple sclerosis. Journal of Phychosomatic  Research, 56:355-361, 2004.

Vanessa Marques Ferreira Jorge

Psicóloga do Centro de Medicina e Reabilitação Lucy Montoro Santos. Graduada bacharel em psicologia pela Universidade Católica de Santos.Especialista em psicologia hospitalar pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HC-FMUSP) e pós-graduanda em Neuropsicologia pelo Centro de Estudos em Psicologia da Saúde (CEPSIC).Atou por 4 anos como psicóloga da Divisão de Psicologia do Instituto Central do Hospital das Clínicas - FMUSP. Desenvolve pesquisas na área de esclerose múltipla, sexualidade, ansiedade e depressão.

Ver comentários

  • Sinto minha perna direita formigar a noite. Este é um elemento novo. É normal,?

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