A tomografia de coerência óptica (OCT, do inglês Optical Coherence Tomography) é um exame de imagem muito utilizado na avaliação das doenças oculares, principalmente as que afetam a retina e o nervo óptico como o diabetes e o glaucoma, respectivamente. O OCT começou a ser utilizado pela Oftalmologia na década de 1990 e, desde então, vem se modernizando e sendo utilizado em outras especialidades médicas.
Para realizar o exame, o aparelho de OCT emite raios infravermelhos (scan infravermelho – Figura A) para dentro do olho e, em seguida, analisa estes mesmos raios refletidos. Cada parte do olho reflete os raios de um modo que, quando captada pelo computador, desenha uma imagem dividida por camadas que representa a anatomia microscópica da região analisada (Figuras C e D). Essa imagem em camadas tem uma qualidade tão alta que se assemelha ao exame histológico de uma biópsia e permite que o OCT quantifique as dimensões das regiões analisadas (Figura D).
A análise dos neurônios localizados na retina e que formam o nervo óptico (conhecidos como Camada de Fibras Nervosas da Retina ou CFNR) através do OCT (Figura A e B) vem sendo utilizada na avaliação de algumas doenças neurológicas como a esclerose múltipla (EM). Isso é possível porque o nervo óptico (e consequentemente, a CFNR) é uma extensão do cérebro onde as células nervosas não são cobertas com o revestimento de gordura e proteínas (conhecida como mielina) como no cérebro, o que possibilita uma avaliação direta dos danos sofridos pelos neurônios, sem a interferência da mielina.
Estudos científicos já mostraram que o OCT consegue detectar o acometimento no nervo óptico mesmo nos olhos que nunca tiveram neurite óptica, ou seja, olhos aparentemente normais. (1) A partir deste achado, os pesquisadores passaram a fazer testes com o OCT nos indivíduos com EM com o intuito de determinar sua capacidade para avaliar a progressão da doença, mais especificamente a progressão da degeneração dos neurônios que é a principal causa das sequelas neurológicas associadas à EM. Alguns estudos já mostraram resultados promissores neste sentido. (2)
Uma outra aplicação do OCT é na diferenciação entre a EM e a neuromielitie óptica, que são duas doenças neuroimunológicas. As duas condições podem ter neurite óptica como primeira manifestação e diferenciá-las é fundamental, pois os tratamentos destas doenças são diferentes. A análise da CFNR através do OCT mostrou que a atrofia do nervo óptico após episódio de neurite óptica é maior na neuromielite óptica do que na EM. (3)
Onde e como é feito o exame?
O aparelho que realiza o exame de OCT é encontrado em várias clínicas de oftalmologia em todo o Brasil. Nas clínicas, o exame é conhecido por alguns nomes, como: OCT de retina, OCT para glaucoma, OCT do nervo óptico e OCT das fibras nervosas da retina. O OCT é um exame diferente da tomografia computadorizada e por isso não é realizado nas clínicas de radiologia.
O exame é indolor, com tempo de duração entre 10-20 minutos e não precisa de preparo especial, como jejum. Para realizá-lo é necessário dilatar a pupila e, para isso, recomenda-se acompanhante. Entretanto, alguns aparelhos mais modernos já conseguem realizar o exame sem dilatação da pupila.
O OCT deve ser realizado por um médico oftalmologista com experiência no exame para que o resultado seja confiável. A comparação entre exames seriados é importante, pois permite detectar alterações no nervo óptico e na retina que podem ser associadas à evolução da esclerose múltipla. Essa comparação é mais confiável quando os exames são realizados em um mesmo aparelho e por um mesmo examinador.
A tecnologia usada no exame de OCT foi melhorando nas últimas décadas e, atualmente, os aparelhos são mais rápidos e têm imagem de alta resolução. A técnica mais moderna é conhecida como spectral-domain, domínio espectral ou Fourier-domain. A antiga técnica é conhecida como Time-domain.
Os aparelhos que usam a tecnologia mais moderna são (empresa/nome comercial): Zeiss/Cirrus, Heidelberg/Spectralis, OptoVue/RTVue e Topcon/3D OCT-1000.
Conclusões
Como vimos, o OCT é um exame de imagem não invasivo que estuda o nervo óptico com grande detalhe e vem sendo usado de forma promissora na avaliação dos pacientes com esclerose múltipla ao diagnóstico e no monitoramento da progressão da doença.