Todos as peças do sistema imune interagem não só entre si, mas com células do sistema nervoso e com o meio externo, representado pelos nutrientes e bactérias intestinais, sendo ainda moduladas por fatores ambientais como a radiação UVB, em uma complexa e bela sinfonia.
As causas da esclerose múltipla (EM) ainda não são completamente conhecidas. Acreditamos que a EM seja desencadeada por uma combinação de fatores atuando juntos em um mesmo indivíduo. Para identificação destes fatores, muitas pesquisas estão em andamento em todo o mundo. As principais áreas de pesquisa atualmente se distribuem em quatro vertentes:
- Epidemiologia (o estudo dos padrões de doença em grandes grupos de pessoas).
- Genética (quais genes podem não estar funcionando corretamente em pessoas que desenvolvem EM).
- Imunologia (o estudo do sistema imunológico do corpo).
- Agentes infecciosos (como vírus)
Sabemos que a doença tem grande variabilidade entre os indivíduos, incluindo os aspectos imunológicos. Possivelmente e por esta razão, para cada pessoa um ou mais fatores devem ter predominado para o desenvolvimento da doença. Vamos resumir estes fatores adiante.
Fatores ambientais
Embora a causa da EM não seja conhecida, muito aprendemos sobre os fatores ambientais que contribuem para o risco de desenvolver EM. Não existe um único fator de risco que provoque a EM, mas acredita-se que vários fatores contribuam para o risco geral, sendo eles o gradiente geográfico, a deficiência de vitamina D, o tabagismo e a obesidade.
Gradiente Geográfico
Sabe-se que a EM ocorre com mais frequência em áreas mais distantes do equador, onde há menor exposição solar. Um dado interessante é que pessoas nascidas em uma área com alto risco de EM que migram para uma região ou País com menor risco antes da idade de 15 anos, passa a ter o risco de sua nova região ou País, por exemplo, da Inglaterra para o Brasil. O oposto vale para pessoas que se mudam ainda bem jovens (antes dos 15 anos) de área de baixo risco para área de alto risco. Tais dados sugerem que a exposição a algum agente ambiental antes da puberdade pode predispor uma pessoa a desenvolver EM mais tarde.
Vitamina D
Evidências crescentes sugerem que a deficiência de vitamina D desempenhe um papel importante na EM, pois baixos níveis de vitamina D no sangue foram identificados como um fator de risco para o desenvolvimento da EM. Quando nos expomos ao sol, nossa fonte natural de vitamina D, mantemos adequada a função imunológica, protegendo contra doenças imunomediadas como a esclerose múltipla.
Tabagismo
Estudos têm mostrado que o hábito de fumar aumenta o risco de uma pessoa de desenvolver EM e está associado a formas mais graves e de progressão mais rápida. Felizmente, as evidências também sugerem que parar de fumar, seja antes ou depois do início da esclerose múltipla, está associado a uma progressão mais lenta da incapacidade.
Obesidade
Estudos têm mostrado que a obesidade na infância e principalmente na adolescência e nas meninas, aumentou o risco de desenvolver mais tarde a esclerose múltipla. Outros estudos mostraram que a obesidade no início da idade adulta também pode contribuir para maior risco de desenvolver EM. Algumas hipóteses poderiam correlacionar estas condições, por exemplo, pelo fato da obesidade pode contribuir para a inflamação e aumento de atividade naqueles já diagnosticados com EM.
Para saber mais a respeito destes fatores de risco mencionados, recomendamos a leitura deste post.
Fatores imunológicos
Na esclerose múltipla uma resposta imune anormal causa inflamação e danos no sistema nervoso central. Imagine que temos diversos tipos de células envolvidas nesta resposta imune “alterada”, mas os dois tipos principais de células imunes envolvidas são as células T e células B.
As células T
São ativadas no sistema linfático (linfonodos) e acessam o cérebro e medula espinhal através dos vasos sanguíneos. Lá estas células liberam produtos químicos que geram inflamação e danos à mielina, aos neurônios e às células que fazem mielina. As células T também são importantes para ajudar a ativar as células B e atrair outras células imunes. Células T reguladoras, um tipo de célula T, trabalha de forma contrária, desligando a inflamação. Na EM, as células reguladoras T não funcionam corretamente e não desligam efetivamente a inflamação. Alguns medicamentos disponíveis podem interferir no funcionamento deste tipo de células e ainda nos linfócitos B.
As células B
São ativadas com a ajuda das células T. As células B produzem os anticorpos e estimulam outras proteínas, levando a danos ao cérebro e à medula espinhal. Alguns medicamentos disponíveis podem interferir no funcionamento deste tipo de células.
Teorias refutadas
Ao longo dos anos muitas teorias sugeriram causas diversas para a EM, e algumas delas já foram descartadas, incluindo alergias ambientais, exposição a animais domésticos, exposição a metais pesados como mercúrio (incluindo os cimentos de dentes de amálgama de mercúrio), chumbo ou manganês e o consumo do adoçante artificial aspartame.