As formas progressivas de esclerose múltipla (EM) são caracterizadas por piora neurológica contínua pelo período de pelo menos 6 a 12 meses, na ausência de um surto definido. É como se uma função, por exemplo, a força em uma das pernas, piorasse de forma lenta, um pouco a cada dois ou três meses. Quando o quadro inicial de esclerose múltipla surto-remissão evolui para uma fase progressiva, a situação pode ser definida como esclerose múltipla secundariamente progressiva, assim chamada para se diferenciar da esclerose múltipla primariamente progressiva, onde desde o início o indivíduo apresenta uma piora lenta e gradual, sem nunca ter ocorrido um surto.
Na fase secundariamente progressiva da EM podem ocorrer eventualmente novos surtos com discretas remissões e estabilizações. Daí a importância de se avaliar por um período de até 12 meses o quadro clinico e a resposta ao tratamento antes que se possa concluir que de fato se está diante de um quadro de EM secundariamente progressiva.
No entanto, vale a pena lembrar que durante a fase surto-remissão alguns pacientes podem persistir com sequelas decorrentes dos surtos e não apresentam piora continua entre os episódios de recorrência. Esta situação, por definição, não seria considerado como forma uma secundariamente progressiva.
O tempo para que a EM torne-se progressiva depende de diversos fatores como por exemplo idade, tempo de doença e sexo. Infelizmente existem poucos dados na literatura médica brasileira, porém em países europeus a média de tempo é entre 10 a 20 anos dependendo da região. Em um estudo francês analisando 1844 portadores de esclerose múltipla, 27% das pessoas tiveram o diagnóstico da forma secundariamente progressiva. Nesta população observou-se que após 19 anos os pacientes apresentaram restrição para caminhar. Entretanto, nem todos os portadores desenvolverão uma forma progressiva. É importante conversar com seu médico e avaliar a situação individualmente.
A causa da mudança na evolução para forma progressiva permanece incerta. Aparentemente a fase progressiva está associada a uma diminuição da inflamação e desmielinização e aumento de um processo degenerativo (perda de neurônios). No congresso europeu de esclerose múltipla (ECTRIMS) realizado em Outubro de 2013 diversos estudos foram apresentados demonstrando um grande interesse da comunidade cientifica para o melhor entendimento da EM secundariamente progressiva e para a descoberta de novas opções de tratamento.
Habitualmente o número de lesões encontradas na ressonância magnética tende a ser maior na fase secundariamente progressiva, com menor impregnação do contraste venoso (denotando menor processo inflamatório) e maior atrofia cerebral o que de certa forma caracteriza o predomínio de degeneração.
Atualmente existem medicações para o tratamento da EM secundariamente progressiva, porém com menor evidencia de beneficio quando comparada a forma surto-remissão. As opções incluem corticoide, imunomoduladores e imunossupressores. A avaliação médica criteriosa é necessária para definir o objetivo do tratamento e avaliar os riscos e benefícios da medicação dentro deste contexto.
As formas progressivas de esclerose múltipla ainda são um grande desafio na ciência, porém as pesquisas avançam e novos tratamentos estão sendo investigados propiciando um novo horizonte para controle desta importante condição.
Referências
1. Lublin FD, Reingold SC, Defining the clinical course of multiple sclerosis: results of an international survey. Neurology 1996;46:907-11
2. Rovaris M, Confavreu C, Furlan R, Kappos L, Comi G, Filippi M. Secondary progressive multiple sclerosis: current knowledge and future challenges. Lancet Neurol 2006;5:343-54.
3. Confavreu C, Vukusic S. Natural history of multiple sclerosis: a unifying concept. Brain 2006;129:606-16.