A esclerose múltipla (EM) apresenta, na maior parte das vezes, recorrência das suas manifestações ao longo do tempo. Essa característica tão particular é fundamental para o diagnóstico: o médico só pode afirmar com certeza que um paciente tem EM se puder comprovar que houve inflamação do sistema nervoso em mais de um momento. Isso é chamado de disseminação no tempo da EM, e pode ser constatado através da observação clínica e/ou Ressonância Magnética.
O que é Síndrome Clinicamente Isolada?
Síndrome Clinicamente Isolada, ou CIS (do inglês, Clinically Isolated Syndrome), é o nome que damos a uma manifestação causada por inflamação no Sistema Nervoso que pode ser o primeiro sintoma da esclerose múltipla. Esta situação pode ser também a primeira manifestação de outras condições como o Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES), a Doença de Behçet, dentre tantas outras como será abordado adiante. Entretanto, mais comumente, a CIS é a primeira manifestação da esclerose múltipla, sendo seus sintomas, portanto, um surto de EM. A CIS deve sempre ser avaliada por um neurologista especialista em doenças desmielinizantes, que poderá definir o risco de conversão para esclerose múltipla definida, e se há a necessidade de tratamento com medicações específicas.
Quais são os sintomas possíveis?
A CIS tem os mesmos sintomas de um surto de EM: alterações visuais, como visão turva ou dupla, formigamento ou adormecimento na face, braços ou pernas, tontura e alterações do equilíbrio, diminuição da força ou coordenação, urgência e incontinência urinária. Estes sintomas podem aparecer isolados, ou em combinação, e geralmente se instalam de forma gradual ao longo de alguns dias.
Como é feito o tratamento da Síndrome Clinicamente Isolada?
Na primeira abordagem a CIS é tratada da mesma forma que as outras doenças inflamatórias neurológicas e surto de esclerose múltipla, com medicações ou procedimentos que visam reduzir a ativação do sistema imunológico e a inflamação. Algumas opções são os corticoides, por via oral ou em forma de pulsoterapia intravenosa, a imunoglobulina humana e a plasmaférese. Se o médico julgar que existe um risco elevado de essa CIS se transformar em esclerose múltipla, ele pode propor tratamento contínuo com medicações que visam evitar ou postergar essa transformação.
Tive uma Síndrome Clinicamente Isolada. E agora?
A CIS é um momento de apreensão para o paciente, que se depara com uma situação nova e desconhecida. É muito importante estabelecer uma relação de confiança com o seu médico, pois este momento também é muito importante para o diagnóstico e tratamento corretos. Deve ser realizada uma investigação clínica extensa para afastar a possibilidade dos sintomas serem causados por outras doenças, como enxaqueca, sarcoidose, vasculites e, principalmente, outras doenças desmielinizantes, como a neuromielite óptica e a encefalomielite disseminada aguda (ADEM).
Caso outras doenças sejam descartadas, confirma-se o diagnóstico de CIS, que pode ser de baixo ou alto risco de transformação em Esclerose Múltipla. Quando a CIS é considerada de alto risco, pode-se optar por iniciar prontamente o tratamento, visando reduzir a chance de um novo surto e controlar precocemente a doença.
Os principais fatores que definem o risco de esclerose múltipla são a presença de lesões sugestivas na ressonância magnética e alterações inflamatórias no exame do líquido cefalorraquidiano (líquor). Fatores em investigação incluem os níveis de vitamina D, fatores genéticos, infecções virais, principalmente pelo vírus Epstein-Barr e tabagismo.