Pessoas com esclerose múltipla (EM) que durante um ano realizaram uma dieta de baixa caloria com muito pouca gordura saturada apresentaram menos fadiga relacionada à EM ao final do estudo quando comparada a um grupo de pessoas com EM que não fizeram dieta, de acordo com um estudo da Oregon Health & Science University (OHSU) apresentado no último congresso anual da Academia Americana de Neurologia na Filadélfia, Pensilvânia.
Este foi o primeiro estudo randomizado controlado para examinar os benefícios potenciais de uma dieta de baixa gordura sobre a fadiga relacionada à EM, tendo avaliado os efeitos da chamada “Dieta McDougall”. Concebida por John McDougall, a dieta muito baixa em gorduras saturadas, concentra-se na ingestão de amidos, frutas e legumes e não inclui carne vermelha ou produtos lácteos.Os principais motivos para retirada de produtos lácteos da dieta estão relacionados com o aumento de citocinas pró-inflamatórias, com uma possível resistência a insulina, já que por ter um índice insulinêmico alto, o leite estimula ainda mais a produção de insulina e processos alergênicos nos quais a lactose e a caseína estão envolvidas.
Gorduras saturadas em geral, dos leites, carnes vermelhas, manteiga, azeite de dendê, oxidam com mais facilidade, produzindo um número acentuado de radicais livres. Esses danificam e destroem as células, influenciando na fadiga muscular, diminuindo a disposição e alterando o humor do paciente.
Os autores não encontraram nenhuma diferença entre o grupo dieta e o grupo controle em relação ao número de lesões cerebrais vistas à RM de crânio e também nenhuma diferença entre os dois grupos em relação à taxa de recaída ou nível de incapacidade causada pela doença. As pessoas que seguiram a dieta perderam muito mais peso do que o grupo controle e tinham níveis de colesterol significativamente mais baixos. Tal conclusão é de extrema relevância, já que os principais medicamentos para controle do colesterol endógeno – as estatinas – depletam a coenzima Q10, uma coenzima fundamental para produção de energia (ATP) com ação antioxidante, e, portanto sua deficiência provoca dores musculares e fadiga. As pessoas que seguiram a dieta também tiveram escores mais altos em um questionário que mede a qualidade de vida e humor em geral.
O tamanho da amostra do estudo foi relativamente pequeno, tendo apenas 53 pessoas o completado, sendo 27 no grupo controle e 22 pessoas no grupo dieta, o que pode ter limitado o poder estatístico para encontrar diferenças como taxa de recaídas ou lesões cerebrais, que requerem um número maior de participantes e de tempo de avaliação.
Limitações à parte, este estudo mostrou que a dieta de baixa gordura pode vir a ser mais uma opção para o manejo da fadiga em indivíduos com EM, um sintoma muitas vezes de difícil manuseio clínico. Aguarda ainda a publicação em revista indexada, pois foi apresentado em congresso. Naturalmente, um trabalho com mais participantes poderá inferir de fato o quanto a dieta empregada pode ajudar a fadiga e possivelmente afetar outros sintomas e a evolução da EM.
Por fim, além de uma dieta com baixa gordura saturada, outros aspectos nutricionais têm sido avaliadas em relação à fadiga na EM, que incluem nutrientes como vitamina D, folato, cálcio e magnésio. Neste sentido, já se documentou que uma dieta pobre em magnésio e em folato aumenta os sintomas de fadiga, já que tais nutrientes participam de diversas reações enzimáticas, desde a produção de energia à contração muscular. Assunto para um outro post.
Referências:
Yadav V, Marracci G, Kim E, Spain R, Cameron M, Overs S, et al. (2014) Effects of a Low Fat Plant Based Diet in Multiple Sclerosis (MS): Results of a 1- Year Long Randomized Controlled (RC) Study (P6.152). Neurology, 82 (10 Supplement ), P6.152–P6.152. http://www.neurology.org/content/82/10_Supplement/P6.152.abstract
Bitarafan S, et al. Dietary intake of nutrients and its correlation with fatigue in multiple sclerosis patiens. Iran J Neuro, 2014. P28-P32.