A esclerose múltipla acomete especialmente mulheres de pele clara em idade fértil, sendo a proporção de 3 mulheres para 1 homem com a doença. Em torno de 90% dos casos, ocorre dos 15 aos 55 anos de idade. As pesquisas indicam a influência de fatores ambientais em indivíduos geneticamente suscetíveis.
Base genética:
A esclerose múltipla (EM) não é uma doença herdada diretamente, porém se alguém da família tiver EM, uma pessoa terá 1 a 5% de chance de também desenvolver a doença (2 a 5% se for parente em primeiro grau). Se um gêmeo univitelino tiver EM, o outro terá 25% de probabilidade de vir a ter a doença. Há uma tendência maior da EM surgir em descendentes europeus, principalmente do norte da Europa.
Fatores ambientais:
A EM acontece com maior frequência em locais distantes do equador. Por exemplo, nos países do norte europeu a prevalência supera 150 casos a cada 100.000 habitantes. Já no continente africano, a prevalência é de 0,3 casos a cada 100.000 habitantes. No nordeste do Brasil é de 1 para 100 mil e na região sudeste em torno de 20 para 100 mil. A pouca exposição solar está associada a menor produção de vitamina D, sendo que esta tem influência na regulação do sistema imune. Expor-se pouco ao sol até os 15 anos de idade aumenta o risco de desenvolvimento da EM. No entanto, a suplementação com vitamina D após a instalação da doença ainda está sob investigação.
Excesso de higiene e ausência de parasitoses intestinais na infância estão relacionadas com aumento da probabilidade do surgimento da EM (hipótese da higiene). O contato com parasitas intestinais exerce um efeito anti-inflamatório, reduzindo a atividade da EM. Já o tabagismo aumenta em 1,5 vezes o risco de desenvolver a EM. Para quem já tem a doença, fumar aumenta o número de surtos e a progressão.
Agentes infecciosos:
O contato com um vírus denominado Epstein-Barr (EBV) pode produzir, em algumas pessoas, elevados níveis de anticorpos contra este vírus no sangue. Nestas situações há um risco de desenvolvimento da EM que é de 20 a 36 vezes maior que as pessoas que tem baixos níveis de anticorpos. Acredita-se que este vírus funcione como um gatilho no desenvolvimento da EM em indivíduos suscetíveis. Uma linha de pesquisa avalia a possibilidade do EBV ativar um vírus “adormecido” nos genes, o HERV-W, e este desencadearia os processos de desmielinização e inflamação no sistema nervoso central.
Em síntese, a esclerose múltipla é uma doença que depende de múltiplos fatores para ser desencadeada. Há uma tendência hereditária, sobre a qual diversos eventos ambientais funcionam como gatilho ou aceleradores da doença, tais como pouca exposição ao sol e excesso de higiene na infância, contato com o vírus Epstein-Barr e tabagismo.
Ainda não conseguimos evitar a EM, porém dispomos de diversos tratamentos que proporcionam um controle da doença em conjunto com atitudes saudáveis como uma boa alimentação, atividades físicas, expor-se ao sol com moderação e não fumar. O objetivo final é qualidade de vida!
Referências:
1. Multiple sclerosis: the environment and causation. Gavin Giovannoni and George Ebers. Current Opinion in Neurology 2007, 20:261–268.
2. Environmental Risk Factors for Multiple Sclerosis. Part I: The Role of Infection. Alberto Ascherio and Kassandra L. Munger. Ann Neurol 2007;61:288–299.
3. Smoking: effects on multiple sclerosis susceptibility and disease progression. Dean M. Wingerchuk. Ther Adv Neurol Disord (2012) 5(1) 13–22.
4. Site: http://www.nationalmssociety.org