A esclerose múltipla é uma doença caracterizada por sinais e sintomas de disfunção neurológica, indicando lesões múltiplas e separadas no sistema nervoso central (SNC) que compreende cérebro, medula espinhal.
A doença apresenta surtos que podem ser definidos como episódios clínicos em que o paciente relata sintomas neurológicos típicos de EM e apresenta alterações objetivas da doença que refletem lesões únicas ou múltiplas no SNC de origem inflamatória e desmielinizante com duração superior a 24h na ausência de febre ou infecção. Os surtos possuem um papel fundamental no diagnóstico da EM.
Diagnóstico da Esclerose múltipla
O diagnóstico da esclerose múltipla (EM) se baseia na presença de princípios de acordo com os critérios revisados de McDonald de 2017:
- Identificação de uma “síndrome”, que nada mais é do que um conjunto de sinais e sintomas, típica da desmielinização associada à esclerose múltipla.
- Achados no exame clínico de acometimento do sistema nervoso central
- Sintomas ao longo de meses ou anos (disseminação no tempo)
- Sintomas em diferentes regiões do corpo (disseminação no espaço)
- Ausência de outro diagnóstico que expliquem os sintomas.
Esses critérios apresentam a vantagem de permitir o diagnóstico mais precoce da doença. Abaixo descreveremos cada um dos critérios diagnósticos utilizados atualmente.
Síndromes típicas de esclerose múltipla
Para o diagnóstico de EM o paciente deve possuir sinais e sintomas de uma das síndromes típicas de EM que são:
- Neurite óptica, que seria a inflamação do nervo óptico, podendo levar à piora da visão.
- Síndromes decorrentes de lesões no tronco cerebral, como a neuralgia do trigêmeo, que pode levar a dores na face.
- Síndromes cerebelares, que podem levar a desequilíbrio.
- Síndromes medulares, como a mielite transversa, que é a inflamação da medula e que pode se apresentar como perda de força, sensibilidade ou alteração na bexiga ou intestino.
Evidência objetiva de acometimento do sistema nervoso central na esclerose múltipla
Para o diagnóstico de EM é necessário possuir evidência clínica objetiva de pelo menos uma lesão no SNC que justifique os sintomas clínicos típicos de um surto da doença.
Assim, um paciente com queixa de perda de sensibilidade em uma metade do corpo deve possuir ao exame neurológico perda de sensibilidade no local descrito. As alterações nos exames como a ressonância magnética, que expliquem os sintomas típicos da EM, podem ser usados como evidência objetiva de acometimento do SNC.
A presença de um surto único típico de desmielinização relacionado à EM com evidência objetiva de acometimento do SNC, sem que se consiga completar os demais critérios diagnósticos de EM caracteriza a “síndrome clinicamente isolada”. O próximo passo diagnóstico é a investigação da presença de disseminação no tempo e espaço.
Presença de disseminação no Espaço
A “disseminação no espaço”, entendida como “sintomas em diferentes regiões do corpo”, pode ser definida como a presença de lesões típicas da EM distribuídas em mais de uma localização no sistema nervoso. As lesões típicas da EM ocorrem nas seguintes localizações, que são:
- Próximo aos ventrículos cerebrais (periventriculares)
- No córtex cerebral (corticais)
- Tronco cerebral e cerebelo (infratentoriais)
- Na medula espinhal
Presença de disseminação no Tempo
A “disseminação no tempo”, traduzida como “sintomas que ocorrem ao longo de meses ou anos” requer que o paciente apresente ao menos dois surtos da EM com intervalo mínimo de 30 dias entre eles.
Outra forma de identificarmos “disseminação no tempo” é pela constatação de lesões captantes de contraste numa única ressonância magnética ou a presença de uma nova lesão na ressonância magnética a qualquer época.
Nos pacientes que apresentam um único surto da EM com lesões típicas à ressonância magnética e no líquor se identificam bandas oligoclonais, também poderia ser aplicado o critério de disseminação no tempo e conclusão diagnóstica.
Ausência de outro diagnóstico que expliquem os sintomas
Como não existe um exame que isoladamente confirme o diagnóstico da esclerose múltipla, o neurologista deve estar atento a outros possíveis diagnósticos que simulem EM. Doenças que devem ser descartadas incluem doenças reumatológicas, outras doenças desmielinizantes como a neuromielite óptica, doenças vasculares, dentre outras.
Assim, é importante o neurologista estar atento a sinais que apontem para diagnósticos alternativos bem como preencher todos os critérios diagnósticos de esclerose múltipla. Quanto antes este for feito, mais serão as chances de se evitar surtos e incapacidades futuras.
Referências